RASTREANDO CONTAMINAÇÕES EM LATICÍNIOS
Um dos problemas frequentes em laticínios é a contaminação microbiológica no produto final. Os responsáveis pelo controle de qualidade se questionam “de onde veio?”. A resposta para essa questão é a chave para a resolução do problema e pode ser obtida através do rastreamento microbiológico. Em outras palavras, é necessário conhecer o inimigo e saber onde ele se esconde.
Na maioria dos casos de contaminações, observamos coliformes no produto final acima do regulamentado. Dependendo do grupo microbiológico em questão, a contaminação pode ocasionar perdas econômicas e problemas para a saúde pública. Por isso é importante controlar todas as operações de higiene e determinar quais pontos oferecem maiores riscos de contaminação. Esse é o objetivo do rastreamento microbiológico: identificar os principais pontos de incorporação de micro-organismos durante todo o processamento industrial, determinando assim a origem e as etapas passíveis de contaminação.
Para realizar um rastreamento, podemos usar micro-organismos indicadores a nosso favor. Os mais comuns são aeróbios mesófilos, coliformes totais e coliformes termotolerantes. Plantas que incluem a manipulação, como algumas queijarias, também podem incluir os estafilococos. Fluxogramas que incluem armazenamento e produtos fermentados, podem incluir bolores e leveduras. Você confere um resumo dos principais indicadores no quadro abaixo:
O próximo passo é esboçar todo o fluxograma do produto a ser rastreado. O objetivo é planejar em quais etapas as coletas microbiológicas deverão ser realizadas. Atenção! O ideal é seguir o mesmo lote, desde a recepção até a embalagem final. Essa estratégia é necessária para garantir a perfeita correspondência entre as amostras. Portanto, é muito importante seguir a mesma remessa de matéria prima até o final do seu processamento. Isso faz com que as coletas durem todo período do processamento, podendo ultrapassar 70 horas. Só assim podemos ter certeza onde ocorreu a contaminação.
Para termos uma ideia, vamos colocar como exemplo um fluxograma de muçarela. As informações foram baseadas no artigo científico: “Pontos de Contaminação Microbiológica em Indústrias de Queijo Muçarela”. Confira o esboço do fluxograma e o que foi coletado em cada etapa:
É possível notar que os utensílios e equipamentos onde a massa entra em contato também são avaliados. Outro ponto imprescindível é a coleta do leite imediatamente após pasteurização. Isso garante a perfeita avaliação se o processo possui falhas, como furos nas placas, etc. Portanto, sempre colete o leite no ponto mais próximo da saída do pasteurizador.
Os resultados são muito úteis. Nesse caso da muçarela, foi possível concluir que a origem da contaminação de coliformes estava nos utensílios utilizados na coagulação, corte e desora da massa. Porém, cada indústria tem suas particularidades, sendo o ideal cada indústria ter como fundamento os seus resultados exclusivos. Resultados de outros trabalhos nos dão uma ideia e uma base do que podemos encontrar pela frente, mas não devem ser as únicas fontes.
Outro resultado importante foi a observação de que a filagem, a salga e a maturação contribuem para reduzir as contaminações de coliformes a níveis aceitáveis segundo a legislação. A filagem por causa da temperatura; a salga por causa da clorexidina usada na salmoura (além da concentração de sal); e a maturação por causa do antagonismo exercido pelas bactérias ácido láticas (BAL). Confira no gráfico:
Ainda, as maiores contagens de estafilococos ocorreram após a fermentação, e com provável início na etapa anterior, quando os funcionários começaram a manipular a massa. Os estafilococos são importantes no controle de qualidade pois podem produzir toxinas. Assim é fundamental pesquisar quais são os pontos que favorecem a sua multiplicação.
Portanto, o uso estratégico dos micro-organismos indicadores em rastreamentos microbiológicos é muito útil quando queremos saber a origem da contaminação. O rastreamento pode ser usado em qualquer fluxograma, desde os mais simples até os mais complexos. Quando bem aplicado, permitem que o controle de qualidade tome medidas corretivas e preventivas também.
Data da Publicação: 03/11/2016.
Fonte: MikPoint
http://www.milkpoint.com.br/industria/radar-tecnico/higiene-industrial/rastreando-contaminacoes-em-laticinios-102761n.aspx