Produtores de grãos estão otimistas para a próxima safra

28/04/2016
 |   

A safra de soja chegou ao fim, e agora o milho se desenvolve na lavoura. Com um resultado parcial de como foi o ciclo 2015/2016, produtores de grãos tentam prever o que será da colheita da safrinha, e estão otimistas com as perspectivas para a safra de verão. Durante a Agrishow, na terça-feira, 26, o movimento ainda era tímido, com menos gente circulando nos estandes do que nos anos anteriores. No entanto, como lembrou o produtor de soja Rafael Antonio Ogliari, a movimentação na feira não é o único termômetro para medir a situação vivida pelo setor.

 

"Eu vim de Tangará da Serra até aqui, mas colegas meus, que não saíram do Mato Grosso, também estão comprando máquinas na feira. A diferença é que fazem a negociação por telefone", afirma Ogliari. Para ele, a Agrishow é um balizador de preços importante e deve seguir estimulando novas aquisições. "Todo mundo espera pela feira em busca de melhores condições e depois que ela passa também quer fazer a compra com base no que foi negociado aqui", diz. Ogliari tem 6.500 hectares de soja plantados em Tangará da Serra, MT, e teve produtividade de 55 sacas/ha este ano, 6 a menos que na safra anterior.

 

Segundo o sojicultor, com os bancos negociando os juros à média de 7,5% a.a., e alguns zerando a taxa flat (de análise e abertura de crédito), fazer financiamento com recursos do Governo Federal é uma opção interessante nesse momento. Ele, particularmente, prefere buscar crédito em moeda estrangeira, porque vende a saca em dólar. “Você pega o dólar a 8% a. a. e, por mais que tenha variação no câmbio, consegue fazer um hedge natural”. No Mato Grosso, o produtor considera que o Plano Safra tem sido bastante limitado, com oferta restrita de recursos controlados. “Recursos caros, com taxas de 18% ou 20% estão aí, mas o produtor acaba não pegando”, completa.

 

No ciclo 2015/2016, ele vendeu a saca de soja à média de US$ 16,80, tendo como referência a Bolsa de Chicago. “O preço em dólar estava bem abaixo do que tínhamos na safra anterior, mas o câmbio compensou”, diz Ogliari. Para o ciclo 2016/2017, a expectativa é de melhora na cotação. “Se na safra passada trabalhamos com US$ 8/ bushel, com a recuperação da Bolsa de Chicago, isso está em US$ 10 hoje”. Na prática, mesmo com recuo do câmbio, ele aposta que o preço em Reais deve se manter. “Para o ano que vem, no mercado de troca, já tem negociação rolando a US$ 18/saca, justamente por essa reação de Chicago”.

 

Quanto ao milho, Ogliari afirma que observou aumento do plantio em Mato Grosso com a subida do preço da saca e que mesmo uma quebra na produção, causada por falta de chuvas, pode não ter impacto tão negativo. “Os preços futuros do milho estavam muito interessantes. Falar em R$ 20/saca no Estado, que sempre trabalhou a R$ 14, R$ 13, motivou muita gente a plantar. E, agora, com a saca a R$ 35 em Sorriso, eu acredito que o produtor não vai vender a mercadoria a menos que R$ 20”. De modo geral, em razão do clima, o balanço que ele faz é de que a safra 2015/2016 foi de prejuízo para a produção de soja e será de menor produtividade para o milho. “O milho, quem vendeu - e estima-se que Mato Grosso tem 60% comercializados - já fez seus custos e vai apostar em uma alta para o que tem por vender, justamente por causa dessa queda de produtividade,” afirma Ogliari.

 

O médio e o pequeno Pedro Dalla Nora, de Paranatinga, MT, está mais preocupado com o milho enquanto insumo para ração. Na segunda safra, ele dedicou 300 hectares ao plantio de feijão e outros 300 ao plantio de milho. Sua meta para o ano que vem é cobrir 100% dos1.000 hectares, onde tem cultivo de soja, com o milho safrinha. Como tem gado na propriedade, ele não quer ficar refém do preço praticado no mercado. “Com o milho quero ainda intensificar a produção agrícola, manter os funcionários na propriedade o ano todo e melhorar as condições do solo”.

 

Sojicultor há seis anos, Dalla Nora também está do lado de quem não foi fortemente afetado pelo clima, mas reconhece que muitos colegas colheram menos de 40 sacas/ha, não tendo conseguido pagar o custo de produção. “Aqueles que são arrendatários de fato vão sofrer. Eu acredito que muitos irão desistir da atividade, porque não é fácil sobreviver assim”, diz. A produtividade média na fazenda de Dalla Nora foi de 53,5 sacas de soja/ha; 2,5 a menos que no ciclo anterior, com o preço do grão sendo considerado viável por ele.

 

Apesar do momento de perdas, o produtor vê o cenário futuro com otimismo e enxerga potencial no município para a soja se expandir. “Paranatinga saiu de 50 mil ha plantados há cinco anos para 200 mil ha agora, e tem área de pastagens degradadas para o cultivo continuar aumentando”, afirma. A visita à Agrishow é parte de sua tarefa rotineira de manter-se atualizado, conhecer as tecnologias disponíveis e compará-las ao que está empregando no campo. “Hoje a gente tem que atuar como empresário rural, buscar ter aumento de produtividade, tecnologia, senão termina fora do mercado”, diz.

 

Dalla Nora coloca todos os seus custos na ponta do lápis. Desde 2004, ele só trabalha com recurso próprio para gerenciar as atividades da fazenda. “A visão que eu tenho é de que o juro, por mais barato que seja, para o setor rural, é sempre caro. Quando eu parei de usar crédito, percebi que a solidez na agricultura pode ser melhor, você ganha essa rentabilidade”, argumenta.

 

Luis Carlos Yogui, de Promissão, SP, está bastante satisfeito. Plantou soja pela primeira vez nesta safra em uma área de 190 hectares. “Alcancei produtividade de 60 sacas/ha, e planejo arrendar terras para ampliar a produção”, afirma. O incentivo para apostar na leguminosa veio dos filhos que estão estudando Agronomia. Junto deles, o produtor nos disse quais os planos para a Agrishow: “Eu vim comprar uma plantadeira maior e também um trator”.

 

Yogui vinha de duas safras difíceis em que, depois de ter prejuízo com o milho e a cana, precisou vender o maquinário já quitado para pagar dívidas. “No ano passado, quase sem produção, tivemos que vender o milho a R$ 22, e esse ano a saca bateu a casa dos R$ 45. Melhor que a soja ainda”. O agricultor optou por não fazer o plantio de safrinha, o que acredita ter sido um bom negócio. “O custo para plantio está entre R$ 4 mil e R$ 5 mil/ha. Usei esse dinheiro para comprar gado e, como o clima não está cooperando na região, sinto que fiz a escolha certa”, completa.

 

Data da Publicação: 27/04/2016

Fonte: Portal DBO

http://www.portaldbo.com.br/Agro-DBO/Noticias/Produtores-de-graos-estao-otimistas-para-a-proxima-safra/16259

 

Novo comentário:

Por favor, digite a sequência de caracteres da imagem acima para validar o envio do formulário.

Voltar