OPNIÃO: POR QUE O MERCADO VIROU?

05/09/2016
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Nesse ano em que os preços posicionaram-se fora da curva, vários agentes do mercado acostumados com o comportamento do leite foram surpreendidos por oscilações e patamares nunca antes confrontados no atacado, varejo e também ao produtor. Já nesse momento da inversão da curva, ascendente até há poucos dias, também a queda do “spot” está sendo rápida e surpreendente. Será um reflexo do mercado frente à ascensão? Muitos dizem que o mercado é totalmente soberano. Será? Vamos analisar.

 

É possível que um crescimento negativo da produção em 2015 e 2016 (o primeiro, em 23 anos) possa se recuperar com essa dinâmica meteórica? Na seca, com custos altos de alimentos? Mais ainda, no caso do varejo, com queda de consumo na retomada das aulas apesar dos preços menores?

 

O primeiro movimento de baixa que enxergo é o enorme poder com que se apresenta o varejista, especialmente as grandes redes de supermercado. Veja que isso nada tem a ver com o consumidor. Nesse ano ficou provado o que é, de fato, um produto com baixa elasticidade de renda. Mesmo com preços fora da curva, ainda assim o consumidor não deixou de comprar leite. Possivelmente reduziu o consumo de derivados lácteos após os preços cruzarem a tênue linha do seu poder de compra, mas esses são produtos de alta elasticidade.

 

Por que o supermercado consegue impor preços para trás à revelia do consumidor? Em primeiro lugar sinto uma dicotomia entre o setor responsável por captação de leite e pela gerencia comercial das indústrias de leite.

 

No setor de vendas das indústrias, normalmente atribui-se importância apenas ao valor de compra da matéria prima, esquecendo-se do contexto da produção e mercado externo. Já no setor de captação industrial é mais comum o entendimento de que leite cru mais caro ou mais restrito significa melhor margem na venda ao atacado; ou seja, normalmente é um jogo de ganha-ganha entre produtor e indústria. Mas para quem vende ao atacado, apenas o custo dos insumos importa. Por isso a decisão de importações pontuais maciças, em parte por indústrias captadoras de leite cru, que vão abastecer de forma rápida e desequilibrada o mercado, infiltra-se em todos os segmentos de vendas por vasos comunicantes, causando desvios de matéria-prima para setores antes equilibrados. Esse aspecto deverá ser confirmado com o fechamento dos volumes de leite em pó que entraram no país em agosto.

 

Porém esses mesmos agentes esquecem que a queda dos preços da matéria prima reflete-se imediatamente nos preços de venda, especialmente pelo nervosismo das indústrias financeiramente mais frágeis, que compram mais barato e imediatamente vendem mais barato, agindo como traders. Com essa “carta marcada” dos preços na mão, os grandes varejistas saem do mercado exercendo seu papel impositor de preços. Como consequência, as indústrias sobram com seus estoques, muitas vezes caros como no presente momento e inicia-se a derrocada dos preços do atacado e varejo. Isso já é conhecido, mas seguimos sempre reprisando o mesmo filme.

 

Isso tem a ver com o consumo? Não creio. O consumidor vinha comprando caro e deixa imediatamente de comprar quando fica barato? Ou quando voltam aulas nas escolas? Não creio.

 

A meu ver, esse é um movimento simples de restrição de compra dos supermercados, de sensível administração de estoques pelos laticínios e de maior ou menor exposição do valor desse estoque com relação aos preços ora praticados. Mas nesse último caso, com um agente muito forte e difícil de ser confrontado: o grande varejista.

 

Isso não necessariamente significa que a produção aumentou ou que o consumidor deixou de consumir, com sugerem alguns agentes. Mas se estou certo ou errado, vamos saber logo. De fato o mercado virou. Mas a culpa é da nossa cadeia mesmo, porque não soubemos aprender com as lições do passado.

 

Data da Publicação: 05/09/2016.

Fonte: MilkPoint

http://www.milkpoint.com.br/cadeia-do-leite/panorama/opiniao-por-que-o-mercado-virou-101896n.aspx

 

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