MARCELO MARTINS: "AS INDÚSTRIAS LÁCTEAS BRASILEIRAS ESTÃO SE POSICIONANDO PARA A EXPORTAÇÃO"

24/01/2017
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Em entrevista exclusiva para o MilkPoint, Marcelo Costa Martins, presidente da Viva Lácteos, comentou sobre a instabilidade do setor lácteo no ano passado – com alguns meses muito bons tanto para a indústria como para o produtor. “A queda na oferta de leite em 2016 foi um fator importante que estimulou as importações. Para 2017 acreditamos que não teremos uma diferença significativa entre mercado interno e mercado internacional. Em abril de 2016, por exemplo, tivemos uma diferença de aproximadamente 87% entre o preço praticado no mercado interno e o preço praticado no mercado internacional. A medida que nós temos um aumento da oferta de leite no mercado interno, uma reação dos preços do mercado internacional e uma menor variação entre os mercados, nós passamos a ter uma condição mais favorável às exportações ou uma redução no déficit da balança comercial que tivemos esse ano”.

 

Sobre os custos de produção, ele comentou que em virtude da redução dos preços dos ingredientes usados na ração (principalmente milho e farelo de soja) junto com uma melhoria das condições climáticas e sem o efeito do El Niño, em 2017 provavelmente não veremos uma queda significativa na produção de leite como observamos em 2016. “Com relação ao consumo interno, as melhorias são dependentes da estabilidade econômica do país – o que também é preponderante para a manutenção e abertura de novos investimentos, gerando empregos e melhorando a renda, o que está intimamente relacionado com o consumo de lácteos. Pressuponho que este ano veremos uma menor volatilidade dos preços, maior oferta de produção e redução das importações”.

 

Exportações

 

Marcelo destacou que as indústrias estão se posicionando para a exportação e a orientação das empresas associadas é que a Viva Lácteos faça o máximo de ações no sentido de promover os produtos lácteos brasileiros no exterior e também, abra novos mercados. “A Rússia, logo após o embargo, passou a demandar produtos lácteos de países como Brasil, Argentina e Uruguai. Nós tivemos que cumprir uma série de pré-requisitos necessários para exportação e até então, não tínhamos nos posicionado para o mercado russo. Demoramos aproximadamente quatro meses para habilitar as plantas para exportação enquanto algumas plantas no Uruguai e na Argentina já estavam habilitadas – passando a exportar o que tinham e o que não tinham. Quando nós passamos a ter condições de exportar, a demanda do mercado já não era mais a mesma. Isso foi um grande aprendizado para todos nós”.

 

De acordo com ele, muitos importadores nem sequer imaginam que o Brasil é o quarto maior produtor de leite do mundo. “Acredito que essa informação tem que ficar muito clara e para isso, a participação em eventos é muito importante. Em relação às feiras, já confirmamos este ano a presença em Dubai, Moscou e Miami. Também estamos aguardando a nossa participação em Anuga, na Alemanha”.

 

Expansão dos mercados importadores

 

Em relação aos possíveis mercados importadores, hoje a Viva Lácteos tem uma parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e, para o início do primeiro semestre de 2017, temos duas novas missões de habilitações: Chile e Peru. “É muito importante que tenhamos novas aberturas de mercado e diversifiquemos. Até novembro de 2016, exportamos 53% do total de lácteos, em valor, para a Venezuela - menos do que o ano passado (que foi de quase 75%) - mas de certa forma ainda muito concentrado. Com relação ao leite condensado, a nossa participação no mercado total exportado pelo Brasil passou de 13% para 26% do total enviado. É importante que consigamos ampliar a nossa participação em mercados importantes. Temos hoje alguns mercados que são alvo, que foram escolhidos estrategicamente para atuação prioritária”.

 

Esses mercados correspondem hoje a quase R$ 2 bilhões de dólares em importações de lácteos, com uma taxa média de crescimento de 17% ao ano nos últimos cinco anos. Ao mesmo tempo, a participação brasileira nesses mercados é inferior a 1%. “Não seria um trabalho de curto prazo, ele está sendo construído, e o ano de 2016 foi muito desafiador porque tivemos que remar contra a corrente, mas, por outro lado, há algumas empresas demandando a abertura de novos mercados e novos acordos comerciais, enxergando no mercado internacional uma oportunidade interessante. A expectativa para 2017 com certeza é mais favorável, tanto do ponto de vista do mercado interno com o aumento da oferta de matéria-prima, quanto do mercado internacional - na medida que enxergamos um reaquecimento dos preços dos mercados internacionais”.

 

Rússia – uma porta já aberta?

 

Martins pontuou que algumas empresas brasileiras mandam hoje uma pequena quantia de produtos lácteos para a Rússia e que perto do nosso potencial, a quantidade é ínfima. Porém, ele acredita que essa ação contribua para a criação de um relacionamento com os importadores russos a fim de aumentarmos a participação. “A questão é estar dentro do mercado. O mais difícil é entrar nele, depois fica mais favorável. Nossa expectativa é muito boa com relação ao mercado internacional. Acredito que ao mesmo tempo que as empresas se estruturam, elas também se tornam mais interessantes no exterior”.

 

Melhorias do mercado interno

 

Com relação ao consumo, a Viva Lácteos está trabalhando junto ao Mapa para agilizar o registro de novos produtos. O Ministério está atualizando o RIISPOA (Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal), modernizando e desburocratizando processos. Na área de qualidade do leite, além das ações junto ao Mapa para melhorar as questões referentes à IN 62, a associação estimula as indústrias a trabalharem de uma forma coordenada no esclarecimento dos produtores com relação ao uso correto dos medicamentos veterinários.

 

“Essa é uma das prioridades que temos. Elaboramos uma cartilha de orientação sobre o uso correto de medicamentos, principalmente de antibióticos. Hoje, todas as empresas associadas à Viva Lácteos estão trabalhando dentro desse formato e temos mais de 70 milhões de reais aplicados em melhorias na qualidade. Que continuemos avançando para ter cada vez mais condições de produzir alimentos seguros para os consumidores”.

 

Do ponto de vista da imagem do leite, a entidade está trabalhando com uma assessoria de comunicação e com porta vozes da área da saúde que expõem a importância do leite na nutrição humana com base em pesquisas científicas. “Divulgamos esses releases para todos. As informações negativas sobre o leite existem, assim como em outros produtos, mas, o balanço que fazemos no final é que o consumidor brasileiro vê o leite como um alimento seguro. Nossa aposta é que os consumidores continuem usufruindo dos produtos lácteos e que o leite permaneça na cesta básica”.

 

Marcelo disse acreditar na inovação do mercado lácteo, o que é dependente da economia do país, já que são investimentos direcionados à agregação de valor. “Os produtos zero lactose hoje por exemplo estão bem mais disseminados e com custos mais acessíveis, assim como o iogurte grego. De certa forma, a inovação atrai o consumidor”.

 

Data da Publicação: 24/01/2017.

Fonte: MilkPoint

https://www.milkpoint.com.br/industria/cadeia-do-leite/giro-de-noticias/marcelo-martins-as-industrias-lacteas-brasileiras-estao-se-posicionando-para-a-exportacao-103716n.aspx

 

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