Ganho de peso animal em pastagem

15/09/2015
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 “Seu Zé, meu pasto é o mió de todos. Os bicho ganha peso por demais... não só nas águas, mas na seca também....” 

Com certeza o que mais ouvimos por aí é a competitividade entre os produtores noganho de peso dos animais e na produção de leite. Comparar os sistemas é muito saudável, pois induz a busca por melhores índices e por fim melhorar o sistema como um todo. Pois bem, como faço diariamente, contanto os fatos e comparando os contos, presenciei certa vez, duas pessoas comparando veículos. A primeira dizia que o seu fusquinha era o melhor veículo e a segunda dizia que bom mesmo era o seu carro esportivo. Curioso como sempre, parei e observei os fatos. O do fusca, dizia que ele entrava em qualquer lugar com o carro, subia descia morro e ainda rodava muito bem para buscar mantimentos na cidade. O segundo, do carro esportivo, falava que seu possante andava a 200 km/h, com seus diversos cavalos de potência, deixando poeira quando passava pelo fusquinha. Pois bem, quem estava certo?

Ganho de peso em pastagem é com certeza o alvo a ser buscado por todos que trabalham com pastagem. Quanto mais peso o animal ganha, mais rápido ele irá para o abate ou ainda, maior rendimento ao dono no momento de abate (nem sempre o mais pesado tem maior rendimento de carcaça... mas é assunto para outro dia). Em pasto também, o animal produz por volta de 11 kg de leite, sem concentrado, tendo os nossos capins tropicais potencial para isso. Caso suplemente, a produção chega ao redor de 25 a 30 kg/dia por animal, em pastagem mais concentrado. Um pasto bem manejado é aquele que oferece uma forrageira no seu ponto ótimo de manejo. Este ponto refere-se a alguns fatores como o uso de adubação, disponibilidade de luz e temperatura (verão e inverno) e ainda umidade (chuva). Atrelado a esses fatores, tem-se ainda o ajuste de lotação animal na área, que é fundamental juntamente com o sistema de pastejo adotado (contínuo ou rotacionado) do qual permitirá a forrageira crescer e ainda ocupar com eficiência a área, perpetuando-se nesta para enfim caracterizar um sistema chamado de perene, ou seja, quando não se necessita plantar todo ano a pastagem.

Nos sistemas produtivos, o ganho de peso animal em pastagem (sem suplementação) está ao redor de 600 gramas por dia no verão e por volta de 0 a 150 gramas no inverno, em sistemas bem manejados. Isto ocorre porque no verão, a planta apresenta níveis consideráveis de qualidade (alta proteína, média energia e baixa fibra) que proporcionam maiores ganhos de peso em função do favorecimento das condições de clima além dos nutrientes colocados no solo. No inverno, como a planta não têm condições favoráveis de sobrevivência (principalmente o clima) ela utiliza grande parte da proteína e energia que armazenou para se manter viva. Assim, sua qualidade decresce consideravelmente (menos proteína e considerável energia) aumentando as concentrações de fibra, proporcionando menores ganhos de peso nos animais. 

Voltando a história de compararmos sistemas, pode-se dizer que em sistema de lotação contínua (que chamamos de pastejo extensivo), o animal, por estar em "área aberta", onde ele pode escolher o que come, tem ganhos de peso ao redor de um quilo, segundos alguns trabalhos. Pois bem, até aqui podemos concluir que o pastejo extensivo é o melhor. Infelizmente não é. O manejo de sistemas em lotação rotacionada (divisão de piquetes), por ajustarem mais a lotação animal, permite que tenhamos a conclusão de ganhos de peso de até 650 g, no verão, sendo este dado inferior ao mencionado anteriormente de até um kg no pastejo de lotação contínua, no verão. Nestes sistemas, se colocamos lotação por volta 2 a 3 unidades animal (UA) por hectare com animais ganhando 1 kg cada, então teremos um ganho diário de 3 kg. Em lotação rotacionada, tem-se aproximadamente 8 UA por hectare (em alguns casos teremos até 12 UA). Multiplicando 8 x 650 g temos aproximadamente 5 kg de ganho diário, mais que os 3 kg do outro sistema. Neste momento eu pergunto, qual é o certo que deveremos utilizar? 

Outro fator interessante é aquele produtor que pensa que a adubação deve ser máxima, pois desta forma terá a maior produtividade e ainda o maior número de animais abatidos e assim por diante. Ainda, pensa em suplementar estes animais com a maior quantidade de suplemento, sendo este o mais caro e da empresa mais famosa. Senhores, eficiência não é isto. Suplementação em pastagem é como sempre digo, usando um termo utilizado na Zootecnia – DEPENDE. O produtor que fala que o animal dele é mais pesado e ganha mais peso, tem que pensar friamente na questão de como se chegou a isso e, sobretudo quanto custou e com que eficiência isto foi obtido.

Em uma palestra em um curso ministrado fui questionado sobre suplementar ou não animais em pastagem. Antes de responder, a pessoa disse que o suplemento sempre é viável e que os produtores deveriam suplementar sempre. Senhores, não adianta nada suplementarmos algo que não existe. Perguntei a ele sobre o manejo do pasto, raça dos animais, peso dos animais e para minha surpresa, ele disse que não sabia ao menos quantos animais ele possuía na propriedade. 

Existe a base de uma construção que chamamos de alicerce. Este fornece sustentação à construção que ficará sobre ele. Saber a raça dos animais, exigência dos mesmos, e acima de tudo o peso destes animais, dentre outros, é de grande importância, pois somente assim podem-se tomar decisões. Vamos então a uma pequena comparação. Um produtor que não tem pasto suficiente para os animais e o que tem não é de boa qualidade procura uma empresa de suplementação. Por final, ele compra um suplemento e gasta por animal diariamente ao redor de R$ 2,00 com ganho de peso estimado em 600 g por dia. Outro produtor não fornece suplemento e ainda, com manejo correto da pastagem consegue 700 g. Evidente que neste meio campo, temos que medir alguns parâmetros, mas a grosso modo observamos que aquele com suplementação não tem eficiência, e, não ter eficiência, neste caso, significa que o sistema é tão ruim que a suplementação ao invés de ajudar atrapalha, pois encarece todo o sistema. Por outro lado, se o sistema estivesse perfeito tudo seria melhor e com certeza custaria menos e ainda produziria muito mais. Suplementação é viável desde que aplicada no momento certo com a medida certa.

Absolutamente devemos pensar que nossos sistemas devem ser ajustados e não comparados. Dizer que o meu é melhor, ou o seu é pior ou vice versa, é perder tempo discutindo por mérito ou posição. Buscar informações sobre o que já existe é louvável, mas deve ser aplicado com cautela. Tudo merece estudo e com certeza acompanhamento técnico. Nas academias ou institutos de pesquisa as técnicas são testadas a fim de também atender os produtores e certificar-se de que estamos caminhando certo é obrigação e dever. Para isso a comparação também pode ser feita, no entanto, não de forma depreciativa. 

Voltando a história do fusca e do carro esportivo, a minha resposta clara e objetiva para os dois seria: OS DOIS ESTÃO CERTOS. O que sempre falo nas palestras é que os dois são bons onde estão. Experimente trocá-los de lugar. O carro esportivo na estrada de terra patinaria em qualquer lugar em função da sua grande potência e atolaria em qualquer poça de água. O fusca então, nas autoestradas, feitas para correr nos limites de velocidade especificados para cada uma, ficaria para trás e quando não pudesse ser ultrapassado, atrapalharia todo o trânsito atrasando a vida de muita gente. 

Senhores, hoje já fizeram carros de duplo propósito que atendem alguns requisitos e deixam a desejar também em outros, que são melhores que os antigos, mas que precisam ser avaliados. Não é porque o carro é bom na propaganda e o vizinho gostou e recomenda que servirá para mim. Para adquirir o “veículo”, pesquise, pergunte. Caso precise adaptar alguma coisa só faça se tiver 100% de certeza. Assim e somente assim se terá eficiência.

Data da Publicação: 15/09/2015

Fonte: MilkPoint

http://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/pastagens/ganho-de-peso-animal-em-pastagem-96916n.aspx

 

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