Ensilagem: reflexão sobre o uso de aditivos

28/07/2016
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Escrevo isso para me proteger daqueles que erroneamente interpretam o conteúdo desta publicação. Lembro também que esta é somente uma reflexão para que toda a cadeia produtiva possa crescer: classe produtora, indústrias e governo.

 

Mas vamos ao que interessa! Semana passada estive participando da conferência americana sobre ciência animal. Reunião esta que ocorre anualmente e que pesquisadores de muitos países participam, não só os americanos. Como a minha área de atuação é conservação de forragens eu frequentei as apresentações de trabalhos desse campo para ver o que a comunidade científica estava fazendo em prol das cadeias de produção de alimentos de origem animal (carne e leite). Foi então que notei mais uma vez que uma ‘avalanche’ de pesquisas foram conduzidas sobre o uso de aditivos. E raríssimos trabalhos foram apresentados sobre manejo.

 

Portanto, podemos concluir algo sobre este cenário: estamos gerando muita informação sobre o uso de aditivos e quase nada sobre manejo. Façamos uma pergunta aos leitores: vocês imaginam quantos trabalhos foram até hoje publicados sobre os fatores que afetam densidade em silos trincheira? (Lembrando que alta densidade é fundamental). Resposta: Não temos meia-dúzia. Atualmente, a tendência da indústria é criar um aditivo para qualquer tipo de situação. Porém, ela não está errada, pois o comércio fala mais alto nesse ramo. Parece-nos que as mensagens no futuro serão mais ou menos assim: "Use aditivo e durma tranquilo"; "Use aditivo e os teus animais irão produzir"; "Use aditivo e esqueça-se de compactar a tua silagem".

 

Um dos pesquisadores que mais realiza estudos sobre uso de aditivos em silagens em todo o mundo, o Prof. Limin Kung da Universidade de Delaware (Estados Unidos) escreveu a sábia frase em um dos seus artigos: ‘High quality silage can be made without the use of silage additives assuming that producers have control over the many management aspects that can affect the process’. Ou seja, silagem de alta qualidade pode ser produzida sem o uso de aditivos, desde que o produtor tenha conhecimentos sobre manejo.

 

Mas o que é manejo? Manejo é investir no dia-a-dia, é praticar o simples! É olhar diante do que existe na propriedade e pensar: O que eu posso melhorar? No caso da produção de silagens é acompanhar ponto de colheita da cultura, afiar as facas da colhedora, compactar bem a massa, vedar o silo e retirar silagem para que não ocorra entrada de ar.

 

Por fim, nos parece que técnicos e produtores estão sendo "contaminados com a doença dos aditivos". Aditivos podem e devem ser utilizados na produção animal, mas com cautela, ou seja, em situações estratégicas. Aditivos não curam erros provocados por um manejo deficiente. Aditivos podem potencializar a qualidade de uma silagem ou de uma dieta, mas desde que o ‘entorno’ esteja indo bem.

 

Muitos dos meus colegas pesquisadores tem 100% das linhas de pesquisa sobre aplicação de aditivos na nutrição animal. Será que não há nada de manejo para ser estudado? O Brasil carece de muitas informações básicas, as quais ainda não foram geradas pelas Universidades e Institutos de Pesquisa em prol dos produtores. O Brasil não é América do Norte ou Europa! Nós somos um país em desenvolvimento do ponto de vista econômico, político e social e que isso se reflete também na pecuária - do produtor mais tecnificado ao menos tecnificado. Até os mais tecnificados sofrem com os problemas internos.

 

Vou dar dois exemplos, mas existem muitos outros:

 

i) Recentemente, um produtor me perguntou sobre qual é critério utilizado para os intervalos entre os cortes de uma capineira de capim elefante. São dias? É altura? E eu não sabia responder a ele! Por que? Porque as recomendações vão de 35 à 60 dias e de 1,40 à 2,20 m de altura. Ou seja, longos intervalos porque ninguém efetivamente pesquisou sobre isso!

 

ii) Muitos me perguntam: Qual é a taxa de retirada durante o desabastecimento para que a silagem não se deteriore? Nós citamos de 30-40 cm/dia, pois um trabalho alemão da década de 70 reportou esta informação. Mas efetivamente ninguém mediu isso aqui para analisar se esta taxa é adequada ou não para nós com o objetivo de se evitar perdas por deterioração.

 

Eu poderia descrever aqui ‘N’ exemplos da área de nutrição animal que ainda carecem de resposta, mas que infelizmente não são priorizados para se dar lugar ao uso de aditivos. Pensem nisso!

 

Data da Publicação: 28/07/2016

Fonte: MilkPoint

http://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/conservacao-de-forragens/ensilagem-reflexao-sobre-o-uso-de-aditivos-101296n.aspx

 

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