Doenças do rebanho no período das águas

19/01/2016
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Chega o verão, e com ele o calor e maior incidência de chuvas. Para o pecuarista, o pasto verde é um colírio para os olhos. Mas, é também ideal para o desenvolvimento de parasitas, doenças e infecções.

 

Veterinária e pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, Márcia Cristina de Sena Oliveira lista os maiores problemas observados entre o gado de corte e de leite nessa época do ano: que é quando eclode a maior parte dos ovos de carrapatos bovinos; são registrados surtos de tristeza parasitária; e a mosca-do-chifre atua com força. Na pecuária leiteira, a preocupação é com a mastite clínica e subclínica, além de desinterias agudas enfrentadas pelos bezerros.

 

Abaixo, aprenda a reconhecer os sintomas e prevenir esses incômodos tão comuns no período das águas:

 

Infestação por carrapatos - As altas taxas de carrapatos em alguns sistemas de criação de bovinos são consequência da grande infestação presente nas pastagens. Abrigo de cerca de 90% desses parasitas, é ali que as fêmeas são fecundadas e postam seus ovos. Para minimizar o trânsito delas entre o pasto e o couro dos bovinos, a primeira medida deve ser escolher com cautela o tipo de pastagem que irá plantar. A especialista da Embrapa explica que alguns capins são mais favoráveis à migração dos parasitas do que outros por conta de características morfológicas das folhas e caules e de seu tipo de desenvolvimento. “Alguns nascem eretos, outros se espalham no solo, por exemplo”, comenta. Na lista daqueles que devem ser evitados ficam a Braquiaria e Cynodon. Quanto às forrageiras que desfavorecem os carrapatos, são elas as do gênero Panicum, como as espécies Melinis minutiflora e Andropogon gayanus, e a leguminosa do gênero Stylosanthes.

 

Feita a opção pela pastagem, é preciso avaliar de que espécie são os parasitas, para daí definir que carrapaticida usar. O envio de fêmeas para análise laboratorial é que permite fazer a escolha correta pelo produto. Com essa informação em mãos, o indicado é molhar o animal com o carrapaticida diluído na proporção indicada pelo fabricante em dias mais secos, para evitar uma lavagem pela chuva. O medicamento deve ter eficácia superior a 90% e ser aplicado em intervalos de 21 dias até que se atinja grau de infestação baixo, de 30 a 20 carrapatos por cabeça. As aplicações, alerta Márcia, devem ser iniciadas na primavera, quando a umidade e a temperatura aumentam a eclosão de larvas nas pastagens. A diversificação dos produtos carrapaticidas al longo do tempo inibe, ainda, que os parasitas criem resistência.

 

Na linha da prevenção, a rotação de pastagens é outra alternativa, sendo recomendado descanso de pelo menos 90 dias aos piquetes. Segundo a pesquisadora, fazer rotação é melhor do que não fazer, mas se o período for muito curto os resultados podem não ser satisfatórios. A explicação para isso é que as larvas ficam viáveis nas pastagens por até 200 dias. Havendo necessidade de aproveitar o espaço, é recomendado colocar sobre a área animais menos suscetíveis aos carrapatos, como o gado zebu ou, se a fazenda trabalhar somente com raças europeias, animais mais jovens banhados a inseticida – que possuem imunidade mais alta dado o recebimento de colostro nos primeiros dias de vida.

 

Persistindo a ação dos parasitas, os bovinos podem apresentar perda de peso; sofrer danos no couro; ter anemia e, no caso dos de leite, diminuir sua produção.

 

Tristeza parasitária bovina (TPB) - Muitas vezes atrelada à presença de carrapatos bovinos, que são um de seus agentes transmissores, a TPB é o nome que se dá a um complexo de doenças; duas delas são causadas por protozoários (Babesia bovis e Babesia bigemina) e uma por bactéria (Anaplasma marginale).

 

Apesar de diferentes, a babesiose e a anaplasmose atacam as células vermelhas do sangue (hemáceas) e causam forte anemia nos animais. Outros sintomas são apatia, prostração, mucosas oculares pálidas ou amareladas, febre acima de 40°C, desidratação e urina escura, que podem vir ou não acompanhados de problemas neurológicos, principalmente associados à coordenação motora. O tratamento deve ser indicado por profissional da área e, segundo Márcia, a maior arma contra a TPB é a prevenção.

 

“Na região Sudeste, onde atuo, o que se vê hoje é uma situação de endemia estável da tristeza parasitária bovina. O que isso significa? Significa que tem muito carrapato, mas não há surto”, diz. O controle, segundo ela, se dá justamente porque os animais ficam expostos aos carrapatos, são infectados por eles e desenvolvem anticorpos contra a doença. O risco está na falta dessa “vacina natural”. “Na região Sul, por exemplo, onde o frio impede o desenvolvimento do carrapato em determinadas épocas do ano, os produtores colocam os parasitas na pastagem”; o resultado é um controle permanente.

 

No caso da anaplasmose, outro agente transmissor bastante comum é a mosca-do-chifre, à qual o gado zebu não é menos suscetível. Conhecida por atuar como uma “agulha contaminada”, ela carrega na saliva, ao picar um e outro animal, pequenos micro-organismos como a bactéria causadora da TPB.

 

Diarreia em bezerros - Considerando que durante o verão a maior parte das fazendas de corte ainda está em estação de monta, dá para dizer que o problema da diarreia, tanto viral quanto bacteriana, entre bezerros, é mais comum na pecuária de leite. Seja como for, o produtor deve estar atento àquilo que pode evoluir para algo mais sério.

 

Com o calor, é natural haver maior multiplicação de micro-organismos e também fica mais difícil manter a higiene dos animais. Some-se a isso o fato de que, quando pequeno, o bezerro ainda não tem o rúmen bem desenvolvido, e se configura aí um quadro propício à desinteria entre esses animais. Para lidar com a situação e evitar que os animais apresentem acidose metabólica, a dica da especialista é focar na hidratação. “Fornecer livre acesso à água, colocar os animais em local abrigado do sol, ventilado e limpo, essas são as recomendações”.

 

Mastite - Enfermidade comum entre as vacas leiteiras, a mastite é ainda mais preocupante durante o verão, seja pela dificuldade de manter a higiene dos animais ou pelo excesso de barro nas propriedades. A doença reduz a produtividade das vacas e traz prejuízos à qualidade do leite. Para evitá-la, boas práticas de manejo precisam ser estimuladas.

 

Caracterizada pela inflamação das glândulas mamárias, a mastite pode ser clínica ou subclínica. “A clínica é quando o animal tem sintomas graves da doença, apresentando inchaço dos tetos, grumos ou pus no leite e endurecimento da glândula. Já a subclínica é aquela que só se detecta com exames ao pé da vaca, ou seja, com a análise do leite”.

 

Uma medida simples e eficaz contra a mastite é higienizar os tetos antes e depois da ordenha. A limpeza pode ser feita com água ou clorexidina e a região precisa ser seca com papel toalha descartável, sem que haja reúso em diferentes tetos. Feita a ordenha, a recomendação é alimentar as vacas para que elas permaneçam em pé e deem o tempo necessário para os tetos fecharem, evitando a entrada de bactérias. A limpeza dos estábulos também é fundamental, já que o excesso de matéria orgânica e umidade estimulam a proliferação desses micro-organismos.

 

Data da Publicação: 19/01/16

Fonte: Portal DBO

http://www.portaldbo.com.br/Revista-DBO/Noticias/Doencas-do-rebanho-no-periodo-das-aguas/15162

 

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